A MALDIÇÃO DE MARCÃO

 

Artur da Távola

 

 

 

 

          O Unimed Futebol Clube (ex-Fluminense) está a sofrer de uma síndrome que meus anjos-guias me disseram ser a Maldição de Marcão. Aí eu perguntei: ”O Marcão é um homem bom. Ele jamais amaldiçoaria um clube, por ter sido demitido abruptamente, pelo telefone, depois de anos de dedicação e excelente futebol. Como isto é possível?”.

          Os guias responderam: “Existe uma maldição do Bem, sábia, Sr. Távola. Quando uma pessoa do bem é prejudicada, invejada, injustiçada, não é ela a autora da maldição. Os anjos bons se unem e operam formas de punição santificada, porque moderada, mas permanente: não ferem nem machucam ninguém gravemente, mas punem os autores da maldade, que acabam por morder a própria língua ou por ter um piriri, por exemplo, ou, ainda, derrotas seguidas na vida. A menos que, como pregavam os antigos sábios, os autores de maldades se arrependam sinceramente, peçam desculpas pelo erro e promovam a sua reparação. Quem faz mal a uma pessoa boa não sabe os riscos que corre...”

          Domingo, na televisão, o Sérgio Noronha, que sabe das coisas, perguntado por um telespectador, disse que, com o time do Fluminense, nada há de errado. Os desvios são provenientes de fora do campo. Há uns dois anos, uma, ou mesmo, várias direções de futebol não conseguem fixar nem técnicos e nem equipe titular. Pois esta é a Maldição de Marcão, acrescento eu.  A partir do momento em que vi, há uns dois meses, o Fluminense vestindo uma camisa branca, o escudo tradicional pequenino e o nome Unimed enorme, senti que a flama do velho tricolor das laranjeiras bruxuleava, ameaçando apagar-se. Em esporte não se usam métodos de empresas impessoais.

          Há outro velho axioma no futebol: “Equipa (como se diz em Portugal) que o torcedor não sabe de cor, é equipa que não dá certo...”. O Unimed tem uns quinze Thiagos, uns dezoito Alexes, não sei quantos Leandros, três goleiros excelentes e não se acerta com nenhum. Ora, quando um time não sabe quem é titular e vive com jogadores que ora jogam, ora ficam na reserva, esse time acaba por confundir a cabeça e os nervos de seus atletas, perde a firmeza e a segurança.

Enfim, os referidos anjos ditaram-me o seguinte: “enquanto não pedirem desculpas ao Marcão, as entidades defensoras do bem estarão unidas contra os autores do mal. Já o Marcão, este perdoou na hora e até fica triste, porque a maioria dos gols contra o Unimed entra, exatamente, pela zona defronte à área antes policiada com a integridade de um policial educado e implacável, como alguns detetives dos filmes de mocinho e bandido”.

 

 

 

Arte: Vera Jarude

 

 

 

Voltar